... dos pequenos começos nascem novidades

 






Onze meses de quarentena no meu ap, no ap do meu filho, em SP, e em Itaipava, com minha filha, meu genro e minha netinha em gestação.

Onze meses porque em Copa, fevereiro é dos blocos e do Carnaval. Comecei o retiro  em fevereiro mas nem de longe imaginei que essa reclusão voluntária seria prolongada obrigatoriamente.


Nos primeiros meses, resisti bem. Fui à praia de janela (como a amiga Zélia Prado chama o banho de sol na janela.) Fiz listas de tudo. O que ver. O quê estudar e o quê  comer. Aqui o trem começou a sair do trilho. 

Contei com a ajuda da akelá  que fui (chefe de lobinhos) que me iniciaram nos acantonamentos. Ou acampamentos indoor. Fiz vários. Na sala, em dois cenários, no quarto em três cenários, no banheiro e na cozinha.

Conheci todos os restaurantes (com avaliação 4,6 em diante) do IFood. Engordei 6 ou 7 quilos.Talvez mais. Escondi  a balança.

A descoberta interessante foi descobrir os pequenos começos das coisas e acreditar que valem um esforço. Ouvi-los às vezes porque eles podem se ransformar em bons hábitos. A leitura, por exemplo, me reconquistou. Até o retorno da segunda onda.. Fiz um telecurso de História do Brasil no canal da USP. Sensacional.

Já estava caminhando, indo ao supermercado, comprando umas coisinhas. Quando a doença teve um revival, outubro/novembro, quase surtei.  Parei de ler, não fiz mais a bicicleta, rasguei as listas. Parei de escrever. Tive crises de mau-humor e agradeci por morar só. Não descontei em ninguém. Comi muito. Casa Pedro. Pizzas. Coca-cola, um vexame.

Comecei a ver TV direto. De manhã, de tarde, à noite, de madrugada. Me apaixonei duas vezes.

Pelo líder dos Peaky Blinders, Tommy  Shelby e pelo o nobre saxão, Uhtred de Bebbanburg, “O Último Rei”,  sequestrado pelos daneses (Dinamarca) em crise de identidade.

Antes de me entregar ao caos, percebi que talvez eu pudesse dar uma atenção aos colaterais do envelhecimento, que nesta aventura muito estranha pareceram ter liberdade  de reprodução. Dores no corpo, barriga presa, mau-humor, nervosismo, criticismo e sensação de abandono. 

Antes do caos, foi imperioso dar atenção  aos   colaterais. Deficiências que vou adquirindo no meu envelhecimento. Deixar cair objetos, digestão mais difícil, pele mais ressecada e resistente às melhores toalhas e por aí vai.

Fiquei assustada com a progressiva negligência. Negligência existencial. Indiferença. 

O fato de viver sozinha faz com que  o sinal vermelho acenda rapidamente. Já aconteceu em outros declínios e perdas. . 

Fiquei interagindo como a mãe (thereza christina e seu bebê (thereza christina, a adolescente, a jovem. Reparei que havia um fosso entre essas necessidades.  Elas mal se conhecem daí  entendi ser necessário aprender comunicação e se comunicar. com boa-vontade e paciência.

Foi quando os pequenos  começos  ajudaram. 

Tentativas são pequenos começos.Por exemplo, se algo não funcionava como habitualmente, em vez de parar de fazer, procurei outra maneira de  realizá-la. E assim fui descobrindo possibilidade no lugar de desistência.  

Essa "filosofia de vida" ainda está na categoria "pequeno começo”  Tenho a impressão de que ela vai acontecer.

Um pequeno começo no diálogo com as minhas necessidades, por idade

Um pequeno começo na reeducação alimentar

Um pequeno começo na atividade física

por aí vai. 

Feliz 2021 !  Bem-vindos, pequenos começos.

 



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